sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os enigmas das navegações na Antiguidade - parte I

Desde sempre o mar exerceu um fascínio sobre o Homem. Ele era o «grande desconhecido», a última barreira. O que é que estaria do outro lado das águas? Que terras, que seres é que existiriam para lá desta barreira? Existiriam outros homens? Todas estas perguntas devem ter passado na cabeça do ser humano primitivo quando contemplava as imensas águas que se estendiam à sua frente.

Sempre que se fazem perguntas, há que encontrar respostas e para as descobrir havia que penetrar nesse imenso mistério que era o mar. Foram necessários homens audazes e corajosos que ultrapassaram os seus medos e se arrojaram a aventurar-se nas salinas águas que rodeavam as costas das regiões onde habitavam, descobrindo as suas maravilhas, mas também o seu lado terrível. O filósofo Anarcharsis, do século VI a.C., situa os marinheiros entre os mortos e os vivos pois eles entravam numa dimensão própria, povoada pelos seus fantasmas, pelos seus monstros, por sonhos e pesadelos.O mar exerceu o seu fascínio e o homem não mais o largou. Muitas histórias foram contadas e ainda se contam sobre viagens a sítios longínquos, uns imaginários, outros reais. Muitas aventuras ocorreram, muitas batalhas se travaram, muitos contactos se efectuaram. Neste trabalho abordaremos alguns povos e as histórias das suas navegações, algumas das quais sem grandes relatos e mergulhadas nas brumas do mistério. Os fenícios realizaram alguma viagem de circum-navegação ao continente africano? Estiveram os vikings na América antes de Colombo? E o que dizer sobre a presença chinesa nas costas de África? Eis algumas das perguntas às quais tentaremos dar, não respostas definitivas, mas algumas chaves para abrir algumas portas.


Os fenícios, um povo de marinheiros

O primeiro povo com grande vocação marinheira foi o fenício. A sua história começou nas montanhas do Kurdistão, onde se dedicavam à pastorícia. Num momento difícil de precisar na História, mas antes do III milénio a.C., aproveitando uma grande vaga migratória que abandonava a região, saíram dessas terras e mudaram-se para as planícies da Mesopotâmia, onde acabaram por não permanecer por muito tempo, seguindo com o corpo principal dos cananitas para as costas do Golfo Pérsico. Aí instalados iriam abandonar a pastorícia e enveredar pela via marítima. Thomas Crawford Johnston, apoiando-se nas referências de Plínio e Estrabão, situa-os nas Ilhas do Bahrein nos inícios do III milénio a.C. Foi o primeiro entreposto que montaram aproveitando o facto de se encontrarem localizados entre dois grandes centros comerciais da época, a Mesopotâmia e a Arábia, para além de estarem no ponto onde confluíam as rotas das caravanas.
A cidade de Gerha, situada na baía das Ilhas do Bahrein, tornou-se numa das mais ricas do mundo antigo. Os fenícios, porém, tinham interesse em estender a sua influência comercial para outros territórios e fizeram incursões nas costas que ladeavam o Golfo Pérsico, explorando para Sul as costas da actual Omã e seguindo posteriormente em direcção a Sudoeste chegando a territórios do Iémen. Para Leste teriam tido contacto com o actual Irão, podendo até mesmo ter chegado ao Paquistão e à Índia.

O seu imenso poderio comercial fez florescer um espírito de animosidade nos seus dois grandes vizinhos, a Babilónia e a Arábia, forçando os fenícios, que não eram um povo guerreiro, a irem abandonado a região em sucessivas vagas. Mudaram-se para as costas de Canãa, no actual Líbano, onde fundaram as cidades de Tiro, Biblos e Sídon. Novos horizontes comerciais se abriram e eles aproveitaram a oportunidade. Várias cidades foram sendo fundadas ao longo das costas norte-africanas do Mediterrâneo, mas cada uma delas mantendo a sua autonomia.Aproveitando a madeira do cedro do Líbano construíram barcos robustos e resistentes, ideais para longas navegações. O principal barco comercial possuía um casco largo e dependia mais da navegação à vela do que com remos. O seu interior era amplo para que pudesse albergar bastante mercadoria. Posteriormente, evoluíram para um barco que tinha, tanto à popa como na proa, traves firmes que lhe davam resistência, tendo um remo atrás para poder manobrar melhor a embarcação.





Mais tarde apareceu um outro tipo de barco cujo casco era baixo e que possuía um mastro com uma larga vela rectangular reforçada com cintas de couro. O casco era utilizado para transportar água potável dentro de ânforas tapadas com rolhas, sendo o deck de cima utilizado para transportar remessas importantes. Devido à sua natureza também militar a proa estava protegida por ferro para que a embarcação não fosse danificada no caso de impacto com um navio inimigo.





O Mediterrâneo começava a ser insuficiente para os fenícios. Eles aventuraram-se até às Colunas de Hércules e ultrapassaram-nas chegando até à Grã-Bretanha, de onde traziam metais para casa. Durante muitos séculos eles mantiveram as rotas do estanho secretas para os outros povos. A própria costa ocidental africana deve ter sido exploradas por estes intrépidos mercadores. Mas teria sido esse o limite?

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